Acordo empolgado e ansioso pelo meu primeiro dia Huayhuash acima. Como combinado às seis horas da manhã Orlando me chama para sairmos. Enquanto ele prepara seus burros para o trabalho eu engulo um sandwish que sobrou e preparo meu galo de briga (mochila).
Poucos minutos de caminhada e já estamos fora das ruas do pequeno vilarejo de uns 500 habitantes.
Começamos a caminhada por áreas de cultivo, plantio e pastagens para os animais. Essas áreas são pequenas, pois o terreno é íngreme e montanhoso. Mas os camponeses preparam pequenos platôs, onde cultivam suas plantas e cuidam de seus animais. O tempo vai passando, os kilometros e montanhas mais baixas ficando pra trás, pois a trilha segue subindo. Vou ficando cada vez mais impressionado, pois por mais longe que estejamos indo cordilheira adentro, continuo vendo pequenas casas de pedras empilhadas, cobertas por galhos e palha, onde vivem pessoas e animais.
As terras aqui não devem ser comercializadas, são terras selvagens e estão a disposição daqueles que têm coragem de viver tão isoladamente.Conforme íamos subindo as área de cultivo formavam pequenos mosaicos e quebra-cabeças vistos de cima. Vejo que algumas dessas casas perdidas entre montanhas estão abandonadas, nem todos devem agüentar a solidão e o isolamento imposto por esse hostil ambiente de montanha. No início a trilha segue o rio Pacllión por um bom trecho, o som das correderas é muito forte e impressionante.
Logo começamos a subir uma forte encosta de montanha, acreditava que o percurso seria mais leve, mas me enganei, cruzar e subir as montanhas foi mais pesado do que eu imagina, principalmente neste primeiro dia que deixamos a vila a Três mil metros e vamos até próximo dos quatro mil metros de altitude. Esta parte da trilha não é muito batida o que dificultaria muito se estivesse sozinho. Foi muito bom ter conseguido a companhia de Orlando, com os mapas que trouxe não encontraria o caminho com facilidade, com certeza me perderia em alguns trechos. Continuamos subindo, eu sabia que meu primeiro acampamento estaria ao fundo no vale do outro lado da montanha, próximo do Diablo Mudo(5200m), uma das poucas montanhas de fácil ascensão em Huayhuash.
Quando chegamos a uma planície próxima do cume, me separo de Orlando, ele vai buscar lenha em uma floresta e encontrar sua esposa no alto da montanha onde cuidadava das ovelhas. Orlando me aponta o Diablo Mudo e por onde devo seguir no fundo do vale, então me diz que ele tem um curral próximo do fundo do vale e se eu quisesse poderia acampar por lá. Nos separamos e eu sigo só, não estava preocupado porque o caminho estava muito batido e avistava ao longe o fundo do vale onde deveria chegar naquele dia. Cruzo uma floresta de Kenuales, fico encantado com essas árvores, acredito que seja uma espécie de cipestre, sua casca parece papel crepom marrom e laranjado, seus galhos tortos pelo vento e seu desenho em relação ao terreno é muito interessante e naturalemente artístico.
Cruzar essa pequena floresta sozinho, ouvindo o estralar de galhos e folhas que vou pisando, ouvindo um pequeno chiado criado pelo vento ao cruzar as densas folhagens destes pinheiros em meio a um silêncio constante e sentido uma leve e gelada brisa nas costas dá uma sensação de liberdade muito grande. Junto desta sensação de liberdade surge uma outra muito mais forte. Uma sensação de solidão invade meus pensamentos. Por alguns instantes que antedecedem o final do floresta penso em tudo o que me ocorreu durante o ano, na minha separação, nos meus amigos, nas pessoas especiais da minha vida e todos aqueles que gostaria que estivessem comigo. Foi uma sensação estranha, como se eu fosse encontrar a morte no final daquela floresta. Espero que no dia da minha morte tenha tempo pra assistir esse filme novamente.
Logo deixo o jardim da bruxa de Blair pra trás e já estou no vale que aos poucos vou atravessando. Depois de uma hora de caminhada seguindo pela encosta do vale encontro um lugar cercado de pedras e pequenas casas feitas de pedras e cobertas com palhas, parece que este lugar esta deserto, havia sinais de animais e pessoas, mas não encontrei ninguém. Uns 50 metros desta área cercada encontro isoladamente o que será ou deixou de ser mais uma dessas casinhas de camponeses. Considero como uma ótima opção para bivacar, entro e verifico que é realmente perfeito, as paredes de pedra me protegerão do vento gelado e não perderia o show das estrelas cadentes pois não havia teto para me atrapalhar.
Preparo e como um purê de batatas com atum e vou descansar um pouco. No final do dia, antes do anoitecer, depois de umas duas horas de cochilo, escuto os habitante locais retornarem, são centenas de ovelhas e seus pastores que passaram o dia no alto das montanhas e que agora retornam aos seus refúgios. Na redondeza vivem três famílias, que estão ali cuidado das suas ovelhas. Vejo Orlando e sua esposa chegando em um dos abrigos, logo levo um chocolate quente para eles. Enquanto bebia aquela saborosa bebida de gringo, ele me falava orgulhoso da sua criação de ovelhas, de onde ele tira a maior parte da sua renda, fornecendo lã para a fabricação de roupas. Me retiro do seu curral e dirijo-me ao meu refugio, antes de partir Orlando me adverte para ter cuidado, pois há pumas selvagens na região, e por isso ele deixa alguns cães pastores cuidando das ovelhas. Já retorno mais preocupado, agora meu refúgio sem porta alguma, isolado, já não parece mais tão seguro. Improvisei uma porta com bastões, mochila, anorak, tudo o que sobrou eu deixei na entrada, como se aquilo fosse impedir algum animal com tanta força como um puma.
Minha preocupação era que meu refugio estava cheirando a atum, e não queria ver gatinhos a noite rosnando por perto do meu bivaque. Por sorte estava cansado, o dia teria sido duro, mas estava feliz por tudo estar correndo tudo bem, e também por poder conhecer de perto a vida de uma família daquela região.Durmi rapidamente com a lembrança de um céu maravilhosamente estrelado que aos poucos foi apagando.
Poucos minutos de caminhada e já estamos fora das ruas do pequeno vilarejo de uns 500 habitantes.
Começamos a caminhada por áreas de cultivo, plantio e pastagens para os animais. Essas áreas são pequenas, pois o terreno é íngreme e montanhoso. Mas os camponeses preparam pequenos platôs, onde cultivam suas plantas e cuidam de seus animais. O tempo vai passando, os kilometros e montanhas mais baixas ficando pra trás, pois a trilha segue subindo. Vou ficando cada vez mais impressionado, pois por mais longe que estejamos indo cordilheira adentro, continuo vendo pequenas casas de pedras empilhadas, cobertas por galhos e palha, onde vivem pessoas e animais.
As terras aqui não devem ser comercializadas, são terras selvagens e estão a disposição daqueles que têm coragem de viver tão isoladamente.Conforme íamos subindo as área de cultivo formavam pequenos mosaicos e quebra-cabeças vistos de cima. Vejo que algumas dessas casas perdidas entre montanhas estão abandonadas, nem todos devem agüentar a solidão e o isolamento imposto por esse hostil ambiente de montanha. No início a trilha segue o rio Pacllión por um bom trecho, o som das correderas é muito forte e impressionante.
Logo começamos a subir uma forte encosta de montanha, acreditava que o percurso seria mais leve, mas me enganei, cruzar e subir as montanhas foi mais pesado do que eu imagina, principalmente neste primeiro dia que deixamos a vila a Três mil metros e vamos até próximo dos quatro mil metros de altitude. Esta parte da trilha não é muito batida o que dificultaria muito se estivesse sozinho. Foi muito bom ter conseguido a companhia de Orlando, com os mapas que trouxe não encontraria o caminho com facilidade, com certeza me perderia em alguns trechos. Continuamos subindo, eu sabia que meu primeiro acampamento estaria ao fundo no vale do outro lado da montanha, próximo do Diablo Mudo(5200m), uma das poucas montanhas de fácil ascensão em Huayhuash.
Quando chegamos a uma planície próxima do cume, me separo de Orlando, ele vai buscar lenha em uma floresta e encontrar sua esposa no alto da montanha onde cuidadava das ovelhas. Orlando me aponta o Diablo Mudo e por onde devo seguir no fundo do vale, então me diz que ele tem um curral próximo do fundo do vale e se eu quisesse poderia acampar por lá. Nos separamos e eu sigo só, não estava preocupado porque o caminho estava muito batido e avistava ao longe o fundo do vale onde deveria chegar naquele dia. Cruzo uma floresta de Kenuales, fico encantado com essas árvores, acredito que seja uma espécie de cipestre, sua casca parece papel crepom marrom e laranjado, seus galhos tortos pelo vento e seu desenho em relação ao terreno é muito interessante e naturalemente artístico.
Cruzar essa pequena floresta sozinho, ouvindo o estralar de galhos e folhas que vou pisando, ouvindo um pequeno chiado criado pelo vento ao cruzar as densas folhagens destes pinheiros em meio a um silêncio constante e sentido uma leve e gelada brisa nas costas dá uma sensação de liberdade muito grande. Junto desta sensação de liberdade surge uma outra muito mais forte. Uma sensação de solidão invade meus pensamentos. Por alguns instantes que antedecedem o final do floresta penso em tudo o que me ocorreu durante o ano, na minha separação, nos meus amigos, nas pessoas especiais da minha vida e todos aqueles que gostaria que estivessem comigo. Foi uma sensação estranha, como se eu fosse encontrar a morte no final daquela floresta. Espero que no dia da minha morte tenha tempo pra assistir esse filme novamente.
Logo deixo o jardim da bruxa de Blair pra trás e já estou no vale que aos poucos vou atravessando. Depois de uma hora de caminhada seguindo pela encosta do vale encontro um lugar cercado de pedras e pequenas casas feitas de pedras e cobertas com palhas, parece que este lugar esta deserto, havia sinais de animais e pessoas, mas não encontrei ninguém. Uns 50 metros desta área cercada encontro isoladamente o que será ou deixou de ser mais uma dessas casinhas de camponeses. Considero como uma ótima opção para bivacar, entro e verifico que é realmente perfeito, as paredes de pedra me protegerão do vento gelado e não perderia o show das estrelas cadentes pois não havia teto para me atrapalhar.
Preparo e como um purê de batatas com atum e vou descansar um pouco. No final do dia, antes do anoitecer, depois de umas duas horas de cochilo, escuto os habitante locais retornarem, são centenas de ovelhas e seus pastores que passaram o dia no alto das montanhas e que agora retornam aos seus refúgios. Na redondeza vivem três famílias, que estão ali cuidado das suas ovelhas. Vejo Orlando e sua esposa chegando em um dos abrigos, logo levo um chocolate quente para eles. Enquanto bebia aquela saborosa bebida de gringo, ele me falava orgulhoso da sua criação de ovelhas, de onde ele tira a maior parte da sua renda, fornecendo lã para a fabricação de roupas. Me retiro do seu curral e dirijo-me ao meu refugio, antes de partir Orlando me adverte para ter cuidado, pois há pumas selvagens na região, e por isso ele deixa alguns cães pastores cuidando das ovelhas. Já retorno mais preocupado, agora meu refúgio sem porta alguma, isolado, já não parece mais tão seguro. Improvisei uma porta com bastões, mochila, anorak, tudo o que sobrou eu deixei na entrada, como se aquilo fosse impedir algum animal com tanta força como um puma.
Minha preocupação era que meu refugio estava cheirando a atum, e não queria ver gatinhos a noite rosnando por perto do meu bivaque. Por sorte estava cansado, o dia teria sido duro, mas estava feliz por tudo estar correndo tudo bem, e também por poder conhecer de perto a vida de uma família daquela região.Durmi rapidamente com a lembrança de um céu maravilhosamente estrelado que aos poucos foi apagando.
Orlando Barnabé e sua esposa, uma das muitas famílias que vivem isoladamente no Andes pastoreando ovelhas e outros animais.
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