domingo, 16 de setembro de 2007

Friaca no Chopi (6350m)



Depois de mais alguns dias de escalada e caminhadas vou atualizar meu brog. Tenho muitas coisas a escrever sobre essa terra e esse povo maravilhoso. Vou começar com um pouco de açao e frio do Chopicalqui (6350m) que tentamos escalar no início do mes.

Dia 04/09 saímos cedinho do hostel, desfilando com botas duplas de plástico pela cidade. Como para essa aproximaçao nao teriamos arrieros ou mulas arrumamos as mochilas o mais leve possível. Pegamos uma van lotada até Yungay. Em Yungay entramos num taxi interacionalizado, pois iam apertadamente dois brasileiros, um americano, um ingles e um alemao, rumo a "la curva", ponto de início da caminhada. Depois de uma hora estavamos na tal curva. Um pouco de discussao com o taxista que queria cobrar outro preco e tudo resolvido. Também acertamos com o taxista o retorno para o dia 07 às 14h. Teríamos assim tres dias para escalar o Chopicalqui.
Estavamos divididos em duas duplas, eu e o Regi em uma e Mike e Merlin o ingles em outra.
Nossa estratégia seria subir em estilo alpino todo dia um tramo da escalada.
Começamos a caminhar umas 10h da manha e logo já estavamos no local de acampamento base, mas queriamos aproveitar o dia e chegar no Campo Moraina a 4900m.
Logo no acampamento base deve-se subir um pequeno morro a direita, pois a trilha principal segue em sua crista em direçao as Morainas. Como nao sabia fui caminhando até o final do vale e depois subi, saí um pouco da trilha, mas depois de alguns minutos já encontrei o restante da trupe descansando antes de começarmos a subir as morainas. Agora já deixavamos uma paisagem de pastagens para e começavamos maisum pedregulho e cascalho das morainas.

A subida ao Campo Moraina é muito forte, um zig-zag pra cima muito pesado, ainda mais com cargueiras. Subi lentamente e parando muitas vezes pra descansar. Porumas 3h da tarde finalmente estavamos no campo moraina. O Regi já havia chegado e montado a barraca. O tempo estava fechado e cinzento, fazia frio, algo em torno de 0 graus. Docampo moraina, devido a nuvens nao avistavamos a parte alta da montanha. Somente viamos oinício da escalada para o proximo dia que seria por um labirinto de Seracs. Encontramos no local um casal de americanos de uns 50 anos, que subiam com guia, porteadores, cozinheiros, etc. Depois de uma saborosa polenta com molho de carne fomos dormir. Eu estava cansado e sentia algumas dores nos joelhos, devido a forte subida.

05/09 - Acordamos cedo com a intençao de subirmos ao Campo 1 (5500m). Mas o tempo estava muito fechado e caia uma leve nevisca. Vagarosamente arrumamos as coisas e nada de o tempo melhorar. Partimos com o tempo fechado na esperança de no dia do ataque o tempo estar melhor. Teriamos que vencer um desnível de uns 600m, sendo uma pequena parte ainda sobre os pedregulhos da moraina. Entao entramos no complicado glaciar do Chopicalqui, complicado porque sao inumeros Seracs e gretas amontoados numa confusao de gelo e buracos.
Por nossa sorte tinhamos as pegadas do guia, porteadores e dos americanos que subiram uns 30 minutos antes. Senao seriao muitas idas e vindas por diferentes caminhos até encontrarmos um que subisse para a Aresta onde é o Campo 1.
Ficar andando por debaixo dos Seracs nao é muito agradável, mas depois de um tempo os estralos já nao assustam mais. Eu ia na ponta, o Regi preferia assim, pois eu estava mais lento.
Até o Campo 1 nao há dificuldades tecnicas, depois de vencer os Seracs fazendo muitos contornos, pegamos uma sequencia de rampas que variam de 20 a 40 graus, nao sao dificeis, mas eram longas e cansativas, ainda mais carregando uma cargueira com todo material. Depois de umas 4 horas encontramos Mike e Merlin nos esperando para montarmos acampamento.
No local já haviam tres barracas da equipe dos americanos, logicamente, como chegaram primeiro escolheram o lugar mais "plano". A área do campo 1 é muito estrah, pois deve-se montar as barracas em grandes pontes de gelo, há gretas por todos os lados. A vantagem desse lugar é que é razoavelmente abrigado do vento, pois está praticamente em um col e com uma parede de rocha bem grande ao fundo. Com as piquetas melhoramos uma área maisou menos plana e montamos a barraca a 1 metro de uma greta.
Era engraçado nos ver a porta da barraca cozinhando com o corpo na área de avance da barraca e os pés sobre a greta. Nossa sorte que era bem estreita, mas dava um medinho na hora de sair da barraca. Enquanto descansavamos o tempo abriu e mostrou-noso cume e um forte sol.
Essa alegria durou pouco e logo fechou novamente. Eu estava preocupado com o tempo e com meu joelho, o Regi parecia cansado, mas pra ele a escalada estava tranquila, um bom descanso e estaria novo. Eu nao podia garantir estava um bagaço. Passei gelol no joelho e fui dormir. Um sono com sonhos estranhos, sonhava que a barraca estava deslizando pra perto da greta e que ela aumentara de tamanho e ia nos engolir. Coisa de louco mesmo, acordei algumas vezes assustado com isso.

06/09 - A meia noite nosso despertador tocou para nos prepararmos. Eu nao sabia como dizer ao Regi que nao estava em condiçoes de tentar o cume, ainda sentia dores nos joelhos e mais umas 10 horas de atividade tornariam minha descida uma penitencia. Entao lhe disse que acharia melhor eu ficar no Campo 1 e adiantar as coisas para descida. Assim ele partiu junto com Mike e Merlin. Voltei a dormir e pela manha quando acordei,vi que o tempo estava muito fechado, muito vento e muita neve. Nem saí da barraca, comi umas frutas secas e umas bolachas e fiquei esperando o tempo melhorar. Por volta das 11 da manha o vento deu uma tregua, entao depois de umas 16h hibernando dentro da barraca, saí pra caminhar um pouco. Estava preparando a mochila pra descer, quando avistei meus amigos descendo a uns 20 minutos do acampamento. Desinterrei a panela e o fogareiro da neve e derreti um pouco de neve para fazer um café quente. Logo Regi estava de volta ao Campo 1 e me contou que o tempo estava muito ruim pra escalar, mas como no Tocla foram tocando pra cima. Quando chegaram a 6100m, uns 200m do cume, encontraram o casal de americanos. O guia estava tendo dificuldades pra vencer um trecho vertical de uns 10m. O Regi estava indignado com o guia, depois de colocar um parafuso o guia nao alcançava mais as piquetas que havia deixado pra cima, uma comédia mesmo. O americano que dava segue nao sabia o que fazer, se dava corda ou se recolhia, a maior palhaçada, comenta o Regi. Enquanto isso os tres esperavam parados lutando contra o forte frio que fazia. Perceberam que iam ficar muito tempo esperando o guia e seus clientes subirem o pequeno trecho e entao resolveram descer. Deixaram o "guia" e seus clientes se batendo na pequena parede e voltaram. Entao terminamos de arrumar nossas mochilas e começamos a descer, com muitas nuves e uma leve nevisca. A descida do campo 1 foi tranquila, como sempre optamos por descer desencordados para ir mais rapido. Deixamos as rampas e logo estavamos nos assustadores Seracs, depois de mais alguns contornos estavamos nas morainas finalmente. Depois de um descanso continuamos a descida por uns 40 minutos em meio a muitas pedras soltas e nevadas das morainas. Depois de montar acampamento e comermos voltamos pra dentro da barraca, o frio e a neve eram demais pra ficar fora da barraca e do saco de dormir.
Passei a tarde ouvindo música, escrevendo e dormindo. Umas duas horas depois o casal de americanos voltaram ao Campo Moraina, mesmo o guia tendo instalado um top-rope, eles nao haviam conseguido escalar a parede. Ainda bem que meus amigos desistiram, ficar mais de uma hora esperando no frio ia ser foda. Uma italiana e seu guia haviam subido ao Campo Moraina enquanto estavamos no Campo 1, mas no final da tarde resolveram abandonar a montanha devido o mau tempo. A noite nem saimos da barraca, tomei um resto de suco e um leite condensado e voltei a dormir. Com muito custo saí da barraca a noite pra mijar, que friaca, devia estar uns -5 a -10, voltei rapidinho para o saco de plumas quentinho.

07/09 - Acordamos com a barraca coberta de neve, mas pelo menos já havia parado de nevar. Aos poucos as nuvens foram se dessipando e revelando pela primeira vez uma vista completa da montanha, muitas fotos para um belo e frio amanhecer. Depois de um reforçado mingau de aveia começamos a desmontar acampamento. O Sol só foi o suficiente para derreter a neve da barraca e dos equipamentos que ficaram pra fora da barraca, e depois de uma hora de sol, as nuvens tomaram conta e nós já começavamos a descer e a deixar a montanha pra trás. Escalar agora no final da temporada é preciso ter mais sorte, em Setembro o tempo começa a mudar por aqui, com muitas nuvens acima dos 5 mil metros.
A descida foi rápida, ainda mais por ser bem ingreme a encosta que descemos. as12:30 já estavamos abeira da estrada esperando nosso taxi que chegou 1hora antes pra nossa alegria.
Mais uma hora e já estavamos emYungay suando dentro de uma van lotada com destino a Huaraz. Nem acreditava que agora meus pés gelados do café da manha no frio Campo Moraina, suavam pelo calor do dia aqui 2 mil metros abaixo.
Nao ficamos abatidos ou triste por nao termos alcançado o cume do Chopicalqui, sabemos que existem dias que sao da montanha e nao nossos. Ficamos contente por ter tentado, por ter aprendido algo mais. A montanha continuará aqui e teremos toda nossa vida para tentar escala-lá novamente. O que mais conta pra mim sao os dias de experiencia que passamos nas montanhas.
Gelo agora só no copo com coca-cola, hehehehe.




Laguna Llaganuco, foto que tirei de dentro do Taxi, no caminho de volta a Yungay.










A mais famosa foto do Chopicalqui, os últimos metros de escalada antes do cume.
Para mais informaçoes sobre o Chopicalaqui:
http://www.summitpost.org/mountain/rock/152630/chopicalqui.html

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