domingo, 16 de setembro de 2007
Friaca no Chopi (6350m)
Depois de mais alguns dias de escalada e caminhadas vou atualizar meu brog. Tenho muitas coisas a escrever sobre essa terra e esse povo maravilhoso. Vou começar com um pouco de açao e frio do Chopicalqui (6350m) que tentamos escalar no início do mes.
Dia 04/09 saímos cedinho do hostel, desfilando com botas duplas de plástico pela cidade. Como para essa aproximaçao nao teriamos arrieros ou mulas arrumamos as mochilas o mais leve possível. Pegamos uma van lotada até Yungay. Em Yungay entramos num taxi interacionalizado, pois iam apertadamente dois brasileiros, um americano, um ingles e um alemao, rumo a "la curva", ponto de início da caminhada. Depois de uma hora estavamos na tal curva. Um pouco de discussao com o taxista que queria cobrar outro preco e tudo resolvido. Também acertamos com o taxista o retorno para o dia 07 às 14h. Teríamos assim tres dias para escalar o Chopicalqui.
Estavamos divididos em duas duplas, eu e o Regi em uma e Mike e Merlin o ingles em outra.
Nossa estratégia seria subir em estilo alpino todo dia um tramo da escalada.
Começamos a caminhar umas 10h da manha e logo já estavamos no local de acampamento base, mas queriamos aproveitar o dia e chegar no Campo Moraina a 4900m.
Logo no acampamento base deve-se subir um pequeno morro a direita, pois a trilha principal segue em sua crista em direçao as Morainas. Como nao sabia fui caminhando até o final do vale e depois subi, saí um pouco da trilha, mas depois de alguns minutos já encontrei o restante da trupe descansando antes de começarmos a subir as morainas. Agora já deixavamos uma paisagem de pastagens para e começavamos maisum pedregulho e cascalho das morainas.
A subida ao Campo Moraina é muito forte, um zig-zag pra cima muito pesado, ainda mais com cargueiras. Subi lentamente e parando muitas vezes pra descansar. Porumas 3h da tarde finalmente estavamos no campo moraina. O Regi já havia chegado e montado a barraca. O tempo estava fechado e cinzento, fazia frio, algo em torno de 0 graus. Docampo moraina, devido a nuvens nao avistavamos a parte alta da montanha. Somente viamos oinício da escalada para o proximo dia que seria por um labirinto de Seracs. Encontramos no local um casal de americanos de uns 50 anos, que subiam com guia, porteadores, cozinheiros, etc. Depois de uma saborosa polenta com molho de carne fomos dormir. Eu estava cansado e sentia algumas dores nos joelhos, devido a forte subida.
05/09 - Acordamos cedo com a intençao de subirmos ao Campo 1 (5500m). Mas o tempo estava muito fechado e caia uma leve nevisca. Vagarosamente arrumamos as coisas e nada de o tempo melhorar. Partimos com o tempo fechado na esperança de no dia do ataque o tempo estar melhor. Teriamos que vencer um desnível de uns 600m, sendo uma pequena parte ainda sobre os pedregulhos da moraina. Entao entramos no complicado glaciar do Chopicalqui, complicado porque sao inumeros Seracs e gretas amontoados numa confusao de gelo e buracos.
Por nossa sorte tinhamos as pegadas do guia, porteadores e dos americanos que subiram uns 30 minutos antes. Senao seriao muitas idas e vindas por diferentes caminhos até encontrarmos um que subisse para a Aresta onde é o Campo 1.
Ficar andando por debaixo dos Seracs nao é muito agradável, mas depois de um tempo os estralos já nao assustam mais. Eu ia na ponta, o Regi preferia assim, pois eu estava mais lento.
Até o Campo 1 nao há dificuldades tecnicas, depois de vencer os Seracs fazendo muitos contornos, pegamos uma sequencia de rampas que variam de 20 a 40 graus, nao sao dificeis, mas eram longas e cansativas, ainda mais carregando uma cargueira com todo material. Depois de umas 4 horas encontramos Mike e Merlin nos esperando para montarmos acampamento.
No local já haviam tres barracas da equipe dos americanos, logicamente, como chegaram primeiro escolheram o lugar mais "plano". A área do campo 1 é muito estrah, pois deve-se montar as barracas em grandes pontes de gelo, há gretas por todos os lados. A vantagem desse lugar é que é razoavelmente abrigado do vento, pois está praticamente em um col e com uma parede de rocha bem grande ao fundo. Com as piquetas melhoramos uma área maisou menos plana e montamos a barraca a 1 metro de uma greta.
Era engraçado nos ver a porta da barraca cozinhando com o corpo na área de avance da barraca e os pés sobre a greta. Nossa sorte que era bem estreita, mas dava um medinho na hora de sair da barraca. Enquanto descansavamos o tempo abriu e mostrou-noso cume e um forte sol.
Essa alegria durou pouco e logo fechou novamente. Eu estava preocupado com o tempo e com meu joelho, o Regi parecia cansado, mas pra ele a escalada estava tranquila, um bom descanso e estaria novo. Eu nao podia garantir estava um bagaço. Passei gelol no joelho e fui dormir. Um sono com sonhos estranhos, sonhava que a barraca estava deslizando pra perto da greta e que ela aumentara de tamanho e ia nos engolir. Coisa de louco mesmo, acordei algumas vezes assustado com isso.
06/09 - A meia noite nosso despertador tocou para nos prepararmos. Eu nao sabia como dizer ao Regi que nao estava em condiçoes de tentar o cume, ainda sentia dores nos joelhos e mais umas 10 horas de atividade tornariam minha descida uma penitencia. Entao lhe disse que acharia melhor eu ficar no Campo 1 e adiantar as coisas para descida. Assim ele partiu junto com Mike e Merlin. Voltei a dormir e pela manha quando acordei,vi que o tempo estava muito fechado, muito vento e muita neve. Nem saí da barraca, comi umas frutas secas e umas bolachas e fiquei esperando o tempo melhorar. Por volta das 11 da manha o vento deu uma tregua, entao depois de umas 16h hibernando dentro da barraca, saí pra caminhar um pouco. Estava preparando a mochila pra descer, quando avistei meus amigos descendo a uns 20 minutos do acampamento. Desinterrei a panela e o fogareiro da neve e derreti um pouco de neve para fazer um café quente. Logo Regi estava de volta ao Campo 1 e me contou que o tempo estava muito ruim pra escalar, mas como no Tocla foram tocando pra cima. Quando chegaram a 6100m, uns 200m do cume, encontraram o casal de americanos. O guia estava tendo dificuldades pra vencer um trecho vertical de uns 10m. O Regi estava indignado com o guia, depois de colocar um parafuso o guia nao alcançava mais as piquetas que havia deixado pra cima, uma comédia mesmo. O americano que dava segue nao sabia o que fazer, se dava corda ou se recolhia, a maior palhaçada, comenta o Regi. Enquanto isso os tres esperavam parados lutando contra o forte frio que fazia. Perceberam que iam ficar muito tempo esperando o guia e seus clientes subirem o pequeno trecho e entao resolveram descer. Deixaram o "guia" e seus clientes se batendo na pequena parede e voltaram. Entao terminamos de arrumar nossas mochilas e começamos a descer, com muitas nuves e uma leve nevisca. A descida do campo 1 foi tranquila, como sempre optamos por descer desencordados para ir mais rapido. Deixamos as rampas e logo estavamos nos assustadores Seracs, depois de mais alguns contornos estavamos nas morainas finalmente. Depois de um descanso continuamos a descida por uns 40 minutos em meio a muitas pedras soltas e nevadas das morainas. Depois de montar acampamento e comermos voltamos pra dentro da barraca, o frio e a neve eram demais pra ficar fora da barraca e do saco de dormir.
Passei a tarde ouvindo música, escrevendo e dormindo. Umas duas horas depois o casal de americanos voltaram ao Campo Moraina, mesmo o guia tendo instalado um top-rope, eles nao haviam conseguido escalar a parede. Ainda bem que meus amigos desistiram, ficar mais de uma hora esperando no frio ia ser foda. Uma italiana e seu guia haviam subido ao Campo Moraina enquanto estavamos no Campo 1, mas no final da tarde resolveram abandonar a montanha devido o mau tempo. A noite nem saimos da barraca, tomei um resto de suco e um leite condensado e voltei a dormir. Com muito custo saí da barraca a noite pra mijar, que friaca, devia estar uns -5 a -10, voltei rapidinho para o saco de plumas quentinho.
07/09 - Acordamos com a barraca coberta de neve, mas pelo menos já havia parado de nevar. Aos poucos as nuvens foram se dessipando e revelando pela primeira vez uma vista completa da montanha, muitas fotos para um belo e frio amanhecer. Depois de um reforçado mingau de aveia começamos a desmontar acampamento. O Sol só foi o suficiente para derreter a neve da barraca e dos equipamentos que ficaram pra fora da barraca, e depois de uma hora de sol, as nuvens tomaram conta e nós já começavamos a descer e a deixar a montanha pra trás. Escalar agora no final da temporada é preciso ter mais sorte, em Setembro o tempo começa a mudar por aqui, com muitas nuvens acima dos 5 mil metros.
A descida foi rápida, ainda mais por ser bem ingreme a encosta que descemos. as12:30 já estavamos abeira da estrada esperando nosso taxi que chegou 1hora antes pra nossa alegria.
Mais uma hora e já estavamos emYungay suando dentro de uma van lotada com destino a Huaraz. Nem acreditava que agora meus pés gelados do café da manha no frio Campo Moraina, suavam pelo calor do dia aqui 2 mil metros abaixo.
Nao ficamos abatidos ou triste por nao termos alcançado o cume do Chopicalqui, sabemos que existem dias que sao da montanha e nao nossos. Ficamos contente por ter tentado, por ter aprendido algo mais. A montanha continuará aqui e teremos toda nossa vida para tentar escala-lá novamente. O que mais conta pra mim sao os dias de experiencia que passamos nas montanhas.
Gelo agora só no copo com coca-cola, hehehehe.
Laguna Llaganuco, foto que tirei de dentro do Taxi, no caminho de volta a Yungay.
A mais famosa foto do Chopicalqui, os últimos metros de escalada antes do cume.
Para mais informaçoes sobre o Chopicalaqui:
http://www.summitpost.org/mountain/rock/152630/chopicalqui.html
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Tocllaraju 6034m de muita escalada e aventura
Terça 28/08 - Acordamos sem pressa quando o sol clareou o acampamento base. Tomamos nosso café da manha e aos poucos fomos preparando nossas mochilas para subir acampamento ao "Campo Alto" 5100m. Próximo as 9h da manha inciamos nossa subida com todo equipamento e comida para a escalada do "Tocla". A metade do caminho que segue no fundo do vale é bem tranquila, com uma subida leve e gradativa. Da metade em diante a aproximaçao tor na-se pesada, com uma subida muito forte e depois uma transversal na complicada moraina que antecede o Campo Alto. Complicada porque é uma confusao de blocos, pedras e muito cascalho solto. Depois de umas 4h de caminhada, com algumas paradas, chegamos ao Campo Alto 5100m.
O Regi ia guiando a cordada, eu no meio e nosso convidade Mike no final da corda. Escalavamos de madrugada e com nossas lanternas desligadas. Seguiamos a rota sobre a luz da lua. Creio que todo montanhista sonhara um dia escalar assim e isso me animava muito. Ver as sombras dos seracs acima de nós e a luz da lua consumida pela imensidao escura das gretas era assustador.
Sentia que estavamos progredindo, mas lentamente. Comecei a perceber que meus dedos do pé estavam ficando gelados. Depois de muitas rampas e contornar algumas gretas e seracs, começamos a enfrentar trechos de escalada mais técnica e entao me concentrava mais nas subidas. Antes de um trecho que todos chamam de "ombro" há o primeiro desafio técnico, uma rampa de uns 60m de uns 60 a 70 graus de inclinaçao. O Regi entrou guiando e pedi ao Mike que desse segue, pois eu precisava verificar meus pés que estavam congelando. O frio nao era intenso, talvez com o vento a sensaçao térmica estivesse entre -5 e -10. O problema era que estava com duas meias grossas numa bota muito justa, isso quase me custou a escalada. Movimentei os pés até que a circulaçao voltou e entao já era minha vez de subir o paredao de gelo. Quando terminei esse trecho encontrei o Regi e o Mike ancorados no final de uma fina crista, que de um lado tinhamos o paredao escalado e de outro uma greta assustadora que engolia a luz da lanterna. Em algumas descriçoes chamam essa greta de "Traga Homens".
Atravessamos a crista cravandos as piquetas no topo e com metade do corpo acima da linha da crista. Essa travessia ainda de madrugada foi o primeiro "crux" da escalada. Depois de mais algumas rampas já estavamos no ombro e entao entramos na aresta que leva até o cume. Nesta aresta o vento aumentou muito, com fortes rajadas. O dia estava começando a clarear, porém nao bonito como esperavamos. Muitas nuvens estavam surgindo de trás da montanha. Quando achei que com o amanhecer a temperatura iria melhorar me enganei. Pois aos poucos o tempo foi ficando feio e logo começou a nevar. Por umas 8h da manha estavamos no meio de um vento muito forte, creio que uns 50km, muita neve caindo e uma visibilidade de uns 20m. Sabiamos pelo altimetro que estavamos no máximo uns 200 metros do cume. Continuamos progredindo, mas eu cada vez mais preocupado com meus pés, nessa altura já nao conseguia mais movimentar os dedos. Antes da travessia da crista, comentei com o Regi a possibilidade de voltar, ele disse que se um voltasse todos voltariam juntos. E entao toquei pra cima na esperança de encontrar o forte sol de todos os dias ao amanhecer.
Depois de mais uma escalada de uns 70 a 80 graus chegamos ao segundo e mais díficil crux da escalada. Uma gigantesca Rimaia separa o cogumelo de gelo do cume. Durante os meses mais frios essa rimaia é bem menor e uma ponte de gelo permite escarla-se os últimos 100 metros verticais, com trechos de 80 graus, que terminam no cume. Nao encontramos ponte alguma, o caminho mais viavel para alcançar o paredao final teria que passar por um vertiginoso túnel vertical dentro da Rimaia, um caminho grotesco e assustador, pois ao terminá-lo já estariamos no paredao. ainda bem que esse trecho era curto. Enquanto o Regi e o Mike que nao conseguiu passar o túnel com sua mochila, procuravam o melhor caminho eu estava sentando dentro da rimaia tentando fazer voltar a circulaçao nos pes e movimentar os dedos. Os dois nao encontraram um gelo bom para um proteçao com parafusos. O gelo deste trecho final estava muito quebradiço e com o aumento dos ventos, os dois voltaram até mim e aguardamos por melhores condiçoes. Eu desamarrei todos os cadarços da minha bota dupla e movimentando muito os pés consegui fazer o sangue voltar a circular nos dedos. Mas eu estava preocupados com meus feios dedinhos e disse ao Regi vamos vazar daqui e descer.
Depois de uma meia hora congelante, entre nuvens um solzinho singelo nos brindou com alguns minutos de calor, enquanto comiamos e bebiamos, nossos animos foram melhorando. Entao no melhor momento de visibilidade vimos o cume sobre nossas cabeças uns 100 metros acima e entao o Regi quis partir para mais uma investida. Eu dava segue de dentro da Rimaia usando o túnel de gelo como proteçao natural, mas dava muito medo ficar ali observando toneladas de gelo acima. Quando a corda esticou foi um alivio sair dali escalando. Em simultaneo subiamos eu e o Mike, que mais uma vez tentou passar o túnel com a mochila e nao conseguiu. O Regi como foi guiando utilizava nosso par de piquetas técnicas, eu ia devagar vencendo a parede com uma par de piquetas de travessia, usando delicadamente as piquetas como apoio. O gelo estava muito quebradiço, nao dava muita segurança. Tinhamos 10 parafusos que só levamos pra passear. O Regi tocou pra cima naquela estranha canaleta final de 70 a 80 graus usando como proteçao as estacas de rapéis abandonadas a cada 30 metros. Depois de mais uma cordada e alguns passos estavamos juntos no cume do Tocllaraju 6034 m, depois de 9 horas de subida e escalada. Diferentemente de outros cumes nao tinhamos a visao de nada, tudo era branco. Eu estava pela primeira vez numa montanha de 6 mil metros. Tentei tirar algumas fotos mas minha camera nao funcionava devido ao frio. O Regi e o Mike tiraram algumas fotos, o Regi ficou emocionado, também graças a ele chegamos ao cume, eu estava retornando já da Rimaia. Mas graças a sua persistencia, experiencia e ousadia chegamos ao cume do o Tocla.
Ficamos uns 10 minutinhos no cume e depois de 3 rapéis de 30 metros estavamos de volta dentro da sinistra rimaia. Agora a euforia do cume dava lugar a preocupaçao com a descida. Pois o tempo estava piorando, mais neve e vento forte. Iamos descendo com pouco visibilidade, a neve fresca em alguns trechos havia tampado nossas pegadas deixadas na subida. Aos poucos iamos encontrando o caminho e desescalando alguns trechos mais expostos. Um outro momento de tensao ocorreu um pouco antes da travessia da crista, Mike descalava um trecho mais vertical em meio de uma pequena avalanche de neve fresca, que nao sabimaos se estava vindo mais de cima. Eu lhe dava segue de um lugar "seguro" na crista, a greta engolia a neve fresca que descia da montanha. Passamos rapidamente a travessia da crista e logo fizemos o último rapel abaixo do ombro. Caminhavamos rapidamente desencordados, pois acima de nós muitos seracs estavam recebendo neve fresca a bastante tempo. Desciamos o mais rápido que podiamos, mas com neve fresca algumas vezes atolavamos a perna até os joelhos. Ouviamos alguns estrondos, mas nao viamos mais que 20 metros de distancia e nao sabiamos o que era com certeza e se vinha em nossa direçao. Uma boa parte da desciada foi bem frenética, até estarmos no baixo glaciar em mais segurança e continuar descendo vagarosamente atolando-se de metro em metro. Depois de mais umas 2 horas caminhando na neve fresca estavamos de volta por umas 4h da tarde no Campo Alto. Comemos alguma coisa, conversamos um pouco com o pessoal que tinha subido ao campo alto e fomos dormir bem cansados. Acordamos no outro dia com o sol derretendo a neve que cobria parte do Campo Alto, o dia amanhecia lindo, muito diferente do dia anterior, desmontamos acampamentos e descemos a horrivel moraina até o campo base.
Como diz aquela música do Maskavo: "Saiba ouvir seu coraçao e deixe seus medos pra trás"
O Campo Alto é uma área para acampamento logo abaixo do glaciar do Tocllaraju. Confortavelmente cabem umas 5 barracas que podem ser colocadas em área planas e protegidas do vento por grandes rochas. A frente do "Campo Alto" revela-se uma língua de Seracs, todos tortos e quebradiços. Olhando do Campo Alto parece que seria impossível atravessar essa garganta de Seracs, ainda bem que a rota normal nao segue por alí.
Montamos nossa barraca ao lado da barraca de um senhor polones, TomaK, de uns 60 anos, que estava montanha acima com seu guia peruano. Almoçamos por umas 4h da tarde e fomos dormir. Nossa estratégia é dormir cedo e acordar a meia noite. Por umas 6 da tarde escutamos Tomak e seu guia chegarem. Pelo tom da conversa vimos que as coisas nao estavam muito boas. Saí da barraca e perguntei ao guia se precisavam de alguma coisa. Ele disse que nao poderiam descer, pois TomaK estava muito acabado, mas nao tinham comida e nem benzina para permanecer mais uma noite no Campo Alto. Entao lhe demos comida e benzina, assim passariao com mais tranquilidade a noite no campo alto e no dia seguinte poderiao baixar ao Campo Base.
Montamos nossa barraca ao lado da barraca de um senhor polones, TomaK, de uns 60 anos, que estava montanha acima com seu guia peruano. Almoçamos por umas 4h da tarde e fomos dormir. Nossa estratégia é dormir cedo e acordar a meia noite. Por umas 6 da tarde escutamos Tomak e seu guia chegarem. Pelo tom da conversa vimos que as coisas nao estavam muito boas. Saí da barraca e perguntei ao guia se precisavam de alguma coisa. Ele disse que nao poderiam descer, pois TomaK estava muito acabado, mas nao tinham comida e nem benzina para permanecer mais uma noite no Campo Alto. Entao lhe demos comida e benzina, assim passariao com mais tranquilidade a noite no campo alto e no dia seguinte poderiao baixar ao Campo Base.
O tempo estava um pouco feio, com uma leve nevisca e um bom frio pra dormir, voltei pra barraca e logo estava dormindo.
Quarta 29/08 - Rock and Roll and Tocla
Quarta 29/08 - Rock and Roll and Tocla
A balada vai ser forte e começa cedo, meia noite acordamos e sonolentamente saímos do nosso casulo de penas de ganso. Alguns gansos deram a vida por nosso confortável sono a 5100m, heheh.
Aos poucos, entre um gole e outro de café, iamos vestindo nossas armaduras e nos equipando com nossas armas. Fazia um frio abaixo de zero, pois algumas coisas que ficaram fora da barraca já estavam congeladas. Mas estavamos contentes com o tempo, pois uma lua cheia e um céu aberto nos saldavam com muita esperança de um dia lindo.
Aos poucos, entre um gole e outro de café, iamos vestindo nossas armaduras e nos equipando com nossas armas. Fazia um frio abaixo de zero, pois algumas coisas que ficaram fora da barraca já estavam congeladas. Mas estavamos contentes com o tempo, pois uma lua cheia e um céu aberto nos saldavam com muita esperança de um dia lindo.
Ver essa enorme montanha branca de gelo banhada pela luz da lua era uma cena irreal e inemaginável pra mim.
Por 1h da manha já estavamos avançando no glaciar. Nas primeiras fortes rampas, ainda com o gosto amargo de ter recém acordado, já me perguntava se essa escalada era pra mim. Seriao 900m de desnível em gelo e neve, com muitos trechos de escalada técnica, numa rota de dificuldade "AD" "Algo díficil". Mas tudo estava transcorrendo muito bem que nem me importava por estar alí em minha primeira temporada de escalada em gelo.
O Regi ia guiando a cordada, eu no meio e nosso convidade Mike no final da corda. Escalavamos de madrugada e com nossas lanternas desligadas. Seguiamos a rota sobre a luz da lua. Creio que todo montanhista sonhara um dia escalar assim e isso me animava muito. Ver as sombras dos seracs acima de nós e a luz da lua consumida pela imensidao escura das gretas era assustador.
Sentia que estavamos progredindo, mas lentamente. Comecei a perceber que meus dedos do pé estavam ficando gelados. Depois de muitas rampas e contornar algumas gretas e seracs, começamos a enfrentar trechos de escalada mais técnica e entao me concentrava mais nas subidas. Antes de um trecho que todos chamam de "ombro" há o primeiro desafio técnico, uma rampa de uns 60m de uns 60 a 70 graus de inclinaçao. O Regi entrou guiando e pedi ao Mike que desse segue, pois eu precisava verificar meus pés que estavam congelando. O frio nao era intenso, talvez com o vento a sensaçao térmica estivesse entre -5 e -10. O problema era que estava com duas meias grossas numa bota muito justa, isso quase me custou a escalada. Movimentei os pés até que a circulaçao voltou e entao já era minha vez de subir o paredao de gelo. Quando terminei esse trecho encontrei o Regi e o Mike ancorados no final de uma fina crista, que de um lado tinhamos o paredao escalado e de outro uma greta assustadora que engolia a luz da lanterna. Em algumas descriçoes chamam essa greta de "Traga Homens".
Atravessamos a crista cravandos as piquetas no topo e com metade do corpo acima da linha da crista. Essa travessia ainda de madrugada foi o primeiro "crux" da escalada. Depois de mais algumas rampas já estavamos no ombro e entao entramos na aresta que leva até o cume. Nesta aresta o vento aumentou muito, com fortes rajadas. O dia estava começando a clarear, porém nao bonito como esperavamos. Muitas nuvens estavam surgindo de trás da montanha. Quando achei que com o amanhecer a temperatura iria melhorar me enganei. Pois aos poucos o tempo foi ficando feio e logo começou a nevar. Por umas 8h da manha estavamos no meio de um vento muito forte, creio que uns 50km, muita neve caindo e uma visibilidade de uns 20m. Sabiamos pelo altimetro que estavamos no máximo uns 200 metros do cume. Continuamos progredindo, mas eu cada vez mais preocupado com meus pés, nessa altura já nao conseguia mais movimentar os dedos. Antes da travessia da crista, comentei com o Regi a possibilidade de voltar, ele disse que se um voltasse todos voltariam juntos. E entao toquei pra cima na esperança de encontrar o forte sol de todos os dias ao amanhecer.
Depois de mais uma escalada de uns 70 a 80 graus chegamos ao segundo e mais díficil crux da escalada. Uma gigantesca Rimaia separa o cogumelo de gelo do cume. Durante os meses mais frios essa rimaia é bem menor e uma ponte de gelo permite escarla-se os últimos 100 metros verticais, com trechos de 80 graus, que terminam no cume. Nao encontramos ponte alguma, o caminho mais viavel para alcançar o paredao final teria que passar por um vertiginoso túnel vertical dentro da Rimaia, um caminho grotesco e assustador, pois ao terminá-lo já estariamos no paredao. ainda bem que esse trecho era curto. Enquanto o Regi e o Mike que nao conseguiu passar o túnel com sua mochila, procuravam o melhor caminho eu estava sentando dentro da rimaia tentando fazer voltar a circulaçao nos pes e movimentar os dedos. Os dois nao encontraram um gelo bom para um proteçao com parafusos. O gelo deste trecho final estava muito quebradiço e com o aumento dos ventos, os dois voltaram até mim e aguardamos por melhores condiçoes. Eu desamarrei todos os cadarços da minha bota dupla e movimentando muito os pés consegui fazer o sangue voltar a circular nos dedos. Mas eu estava preocupados com meus feios dedinhos e disse ao Regi vamos vazar daqui e descer.
Depois de uma meia hora congelante, entre nuvens um solzinho singelo nos brindou com alguns minutos de calor, enquanto comiamos e bebiamos, nossos animos foram melhorando. Entao no melhor momento de visibilidade vimos o cume sobre nossas cabeças uns 100 metros acima e entao o Regi quis partir para mais uma investida. Eu dava segue de dentro da Rimaia usando o túnel de gelo como proteçao natural, mas dava muito medo ficar ali observando toneladas de gelo acima. Quando a corda esticou foi um alivio sair dali escalando. Em simultaneo subiamos eu e o Mike, que mais uma vez tentou passar o túnel com a mochila e nao conseguiu. O Regi como foi guiando utilizava nosso par de piquetas técnicas, eu ia devagar vencendo a parede com uma par de piquetas de travessia, usando delicadamente as piquetas como apoio. O gelo estava muito quebradiço, nao dava muita segurança. Tinhamos 10 parafusos que só levamos pra passear. O Regi tocou pra cima naquela estranha canaleta final de 70 a 80 graus usando como proteçao as estacas de rapéis abandonadas a cada 30 metros. Depois de mais uma cordada e alguns passos estavamos juntos no cume do Tocllaraju 6034 m, depois de 9 horas de subida e escalada. Diferentemente de outros cumes nao tinhamos a visao de nada, tudo era branco. Eu estava pela primeira vez numa montanha de 6 mil metros. Tentei tirar algumas fotos mas minha camera nao funcionava devido ao frio. O Regi e o Mike tiraram algumas fotos, o Regi ficou emocionado, também graças a ele chegamos ao cume, eu estava retornando já da Rimaia. Mas graças a sua persistencia, experiencia e ousadia chegamos ao cume do o Tocla.
Ficamos uns 10 minutinhos no cume e depois de 3 rapéis de 30 metros estavamos de volta dentro da sinistra rimaia. Agora a euforia do cume dava lugar a preocupaçao com a descida. Pois o tempo estava piorando, mais neve e vento forte. Iamos descendo com pouco visibilidade, a neve fresca em alguns trechos havia tampado nossas pegadas deixadas na subida. Aos poucos iamos encontrando o caminho e desescalando alguns trechos mais expostos. Um outro momento de tensao ocorreu um pouco antes da travessia da crista, Mike descalava um trecho mais vertical em meio de uma pequena avalanche de neve fresca, que nao sabimaos se estava vindo mais de cima. Eu lhe dava segue de um lugar "seguro" na crista, a greta engolia a neve fresca que descia da montanha. Passamos rapidamente a travessia da crista e logo fizemos o último rapel abaixo do ombro. Caminhavamos rapidamente desencordados, pois acima de nós muitos seracs estavam recebendo neve fresca a bastante tempo. Desciamos o mais rápido que podiamos, mas com neve fresca algumas vezes atolavamos a perna até os joelhos. Ouviamos alguns estrondos, mas nao viamos mais que 20 metros de distancia e nao sabiamos o que era com certeza e se vinha em nossa direçao. Uma boa parte da desciada foi bem frenética, até estarmos no baixo glaciar em mais segurança e continuar descendo vagarosamente atolando-se de metro em metro. Depois de mais umas 2 horas caminhando na neve fresca estavamos de volta por umas 4h da tarde no Campo Alto. Comemos alguma coisa, conversamos um pouco com o pessoal que tinha subido ao campo alto e fomos dormir bem cansados. Acordamos no outro dia com o sol derretendo a neve que cobria parte do Campo Alto, o dia amanhecia lindo, muito diferente do dia anterior, desmontamos acampamentos e descemos a horrivel moraina até o campo base.
Assim terminou nossa escalada ao Tocllaraju, que poderia ter sido mais fácil. Mas acredito que ter feito o cume em condiçoes adversas teve um gostinho melhor. Agradeço a Deus por tudo ter dado certo e ao meu grande amigo Reginaldo, que com bravura nao se deu por vencido, nem pelo frio, nem pelo ventou ou pela neve. Seguiu seu coraçao e nos conduziu ao cume.
Como diz aquela música do Maskavo: "Saiba ouvir seu coraçao e deixe seus medos pra trás"
Ps: Estamos com problemas pra conseguir as fotos que tiramos do Tocla, pois o Regi perdeu as fotos de sua camera, eu consegui poucas fotos e vamos ter que esperar pra revelar as do Mike.
Para mais informaçoes sobre o Tocla acesse:
Vídeo de uma parte da descida próxima a travessia da crista.
domingo, 2 de setembro de 2007
Quebrada Ishinca - 10 dias de muita escalada, paz e contemplaçao
Escrevo com o som da zampoña e de ritmos tribais em meu ouvido e com o gosto de Pisco Souer em meu paladar. Depois de 10 dias dormindo cedo ao som de um riacho, em um ótimo estado de paz, cansaço e comtemplaçao da quebrada Ishinca, estamos de volta em Huaraz.
Ontem foi um dia de festejarmos as belas e duras escaladas que realizamos na Quebrada Ishinca. O silencio de dias foi quebrado por muitos ritmos regionais e caribenhos, depois de uns copos de Pisco, já estava bailando uma Rumba no Tambo Bar, e melhor que meu novo amigo americano Mike. Uma pena que o Regi perdeu de mer ver dançando uma Rumba, mas creio que ele prefira me ver escalando, hehehe.
Quebrada Ishinca - partimos dia 22/08 cedo para uma comunidade de camponeses chamada Pashpa, lá alugamos mulas para transportar nossos equipamentos e comida para 10 dias. Para se chegar na quebrada Pashpa pode ser ir também por Colon, uma outra comunidade, mas o treking de 15km, se feito por Pashpa é mais bonito, se avista muitas montanhas, entre elas o Imponente Huascarán. Depois de umas 4h de Trekking chegamos a Quebrada Ishinca. Até o momento foi o lugar mais bonito que já acampei em minha vida. Montamos nosso acampamento base ao lado de um riacho azul belissímo, e ao lado de grandes boulders. O Treking foi cansantivo, pois sobe-se gradativamente até 4300m, mas todo o cansaço é recompensado por uma vista incrível, de muitas montanhas, riachos, cachoeiras e florestas de Kenuais.
Ishinca - Nossa primeira montanhas a ser escalada seria o Ishinca 5530m, para nao forçarmos muito, subimos dia 23/08 para um acampamento a 4800m na base do Glaciar do Ishinca, ao lado de uma bonita lagoa, também chamada Ishinca. Pernoitamos numa noite bem gelada e as 3h da manha já avançamos num gelo bem duro montanha acima. Depois de perder tempo com alguns problemas chegamos ao cume próximo das 10h da manha do dia 24/08. Descemos tranquilamente a montanha por uma outra face e ao meio dia já deixamos o glaciar para caminhar nas duras morainas, depois de duas horas de muito cascalho estavamos de volta ao Campo Lagoa, desmontamos acampamento e as 4h da tarde já estavamos de volta em nosso confortável campo base.
Urus - Domingo dia 26, depois de passar um dia descansando, comendo muito bem e dormindo muito, partimos para escalar o Urus, 5495m. A escalada do Urus, foi a que teve o maior desnível vencido em um mesmo dia até aqui. Porém, como o trecho em gelo é pequeno foi bem tranquila a escalada. Saímos as 4h da manha vendo luzes de lanterna muito acima na montanha, e depois de duas horas de subida numa forte moraina já nos encontravamos com outros montanhistas se preparando para entrar no Glaciar. Logo já estavamos escalando suas rampas que sao curtas, porém de uns 50 a 60 graus. Depois de vencer uns trechos de escalada em rocha, próximo do cume, chegamos ao topo as 8h da manha, vencendo 1200m de desnível em 4h. O que é duro de escalar o Urus é a descida, que é muito forte e acaba deixando nos joelhos doloridos. Em poucas horas já estavamos cozinhando no acampamento base.
Isso sim é estar numa fria, hehehe.
Ontem foi um dia de festejarmos as belas e duras escaladas que realizamos na Quebrada Ishinca. O silencio de dias foi quebrado por muitos ritmos regionais e caribenhos, depois de uns copos de Pisco, já estava bailando uma Rumba no Tambo Bar, e melhor que meu novo amigo americano Mike. Uma pena que o Regi perdeu de mer ver dançando uma Rumba, mas creio que ele prefira me ver escalando, hehehe.
Deixando as baladas da cidade e voltando as aventuras, estamos muito felizes por termos aproveitado bem nossa estada na quebrada Ishinca, onde conseguimos escalar as tres montanhas que planejamos escalar.
Vou fazer um resumo das nossas atividades e da quebrada Ishinca, depois a noite e amanha se der tempo descrevo como foram as escaladas.
Vou fazer um resumo das nossas atividades e da quebrada Ishinca, depois a noite e amanha se der tempo descrevo como foram as escaladas.
Quebrada Ishinca - partimos dia 22/08 cedo para uma comunidade de camponeses chamada Pashpa, lá alugamos mulas para transportar nossos equipamentos e comida para 10 dias. Para se chegar na quebrada Pashpa pode ser ir também por Colon, uma outra comunidade, mas o treking de 15km, se feito por Pashpa é mais bonito, se avista muitas montanhas, entre elas o Imponente Huascarán. Depois de umas 4h de Trekking chegamos a Quebrada Ishinca. Até o momento foi o lugar mais bonito que já acampei em minha vida. Montamos nosso acampamento base ao lado de um riacho azul belissímo, e ao lado de grandes boulders. O Treking foi cansantivo, pois sobe-se gradativamente até 4300m, mas todo o cansaço é recompensado por uma vista incrível, de muitas montanhas, riachos, cachoeiras e florestas de Kenuais.
Ishinca - Nossa primeira montanhas a ser escalada seria o Ishinca 5530m, para nao forçarmos muito, subimos dia 23/08 para um acampamento a 4800m na base do Glaciar do Ishinca, ao lado de uma bonita lagoa, também chamada Ishinca. Pernoitamos numa noite bem gelada e as 3h da manha já avançamos num gelo bem duro montanha acima. Depois de perder tempo com alguns problemas chegamos ao cume próximo das 10h da manha do dia 24/08. Descemos tranquilamente a montanha por uma outra face e ao meio dia já deixamos o glaciar para caminhar nas duras morainas, depois de duas horas de muito cascalho estavamos de volta ao Campo Lagoa, desmontamos acampamento e as 4h da tarde já estavamos de volta em nosso confortável campo base.
Urus - Domingo dia 26, depois de passar um dia descansando, comendo muito bem e dormindo muito, partimos para escalar o Urus, 5495m. A escalada do Urus, foi a que teve o maior desnível vencido em um mesmo dia até aqui. Porém, como o trecho em gelo é pequeno foi bem tranquila a escalada. Saímos as 4h da manha vendo luzes de lanterna muito acima na montanha, e depois de duas horas de subida numa forte moraina já nos encontravamos com outros montanhistas se preparando para entrar no Glaciar. Logo já estavamos escalando suas rampas que sao curtas, porém de uns 50 a 60 graus. Depois de vencer uns trechos de escalada em rocha, próximo do cume, chegamos ao topo as 8h da manha, vencendo 1200m de desnível em 4h. O que é duro de escalar o Urus é a descida, que é muito forte e acaba deixando nos joelhos doloridos. Em poucas horas já estavamos cozinhando no acampamento base.
Toclaraju - Terça dia 28/08 começou pra mim o que foi minha escalada mais dura e técnica até aqui pra mim. O Tocllaraju 6034m é uma montanha de 6 mil belissíma, praticamente uma montanha de gelo, sempre me dava um frio na barriga quando a encarava. Em Quechua, Tocllaraju quer dizer Montanha das armadilhas. Subimos até o Campo Alto a 5100, atravessando novamente um dura e empinada moraina. Depois de umas 5 horas carregados chegamos ao Campo Alto de onde se ataca o cume do Tocllaraju. Dormimos de dia e a meia noite saímos glaciar acima, escalavamos guiados pela luz da lua cheia que nos seguia, fazia frio, mas o tempo estava bom, vencemos alguns trechos técnicos ainda na madrugada, graças as destrezas de meu amigo Regi, e fomos progredindo, eu tive alguns problemas com meus pés. Quando o dia começou a clarear as coisas pioraram e o tempo ficou horrível, ventos fortes, neve e uma visibilidade de uns 20 metros quase nos impediram de chegar ao cume. Depois de muita persistencia do Regi, conseguimos vencer o díficil trecho final de uma escalada técnica realizada em condiçoes realmente ruins. Próximo as 9h da manha estavamos no cume do Tocllaraju 6034 m, e logo começamos uma dura descida em meio a uma tempestade de neve e vento o que dificultava muito nos trechos mais técnicos da escalada e nos rapéis. Podemos dizer que a descida foi muito assustadora, a pouca visibilidade e muita neve fresca nos atrasou muito, mas por volta das 4h da tarde estavamos de volta ao Campo Alto, felizes por termos realizado uma dura escalada em condiçoes muito severas, onde muitos teriam desistido. Valeu Regi pelas grandes guiadas que fez, demonstrando ser um grande e forte montanhista, nao se entregando aos problemas de uma grande escalada. Obrigado ao Mike por seu companheirismo nessa grande aventura que fizemos parte.
Ps: Depois descrevo os detalhes das escaladas e desculpem pelos erros gramaticais e os acentos desses teclados peruanos.
Mais fotos: (clique para ampliar)
Eu e o Regi no Cume do Ishinca 5530m
Homens das montanhas, das cavernas ou da cidade?
Dia de descanso = dia de Boulders (muitos boulders no campo base)
Aqui tem escalada rocha também, lugar lindo, logo ao entrar na Quebrada Ishinca.
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