
Montamos nossa barraca ao lado da barraca de um senhor polones, TomaK, de uns 60 anos, que estava montanha acima com seu guia peruano. Almoçamos por umas 4h da tarde e fomos dormir. Nossa estratégia é dormir cedo e acordar a meia noite. Por umas 6 da tarde escutamos Tomak e seu guia chegarem. Pelo tom da conversa vimos que as coisas nao estavam muito boas. Saí da barraca e perguntei ao guia se precisavam de alguma coisa. Ele disse que nao poderiam descer, pois TomaK estava muito acabado, mas nao tinham comida e nem benzina para permanecer mais uma noite no Campo Alto. Entao lhe demos comida e benzina, assim passariao com mais tranquilidade a noite no campo alto e no dia seguinte poderiao baixar ao Campo Base.
O tempo estava um pouco feio, com uma leve nevisca e um bom frio pra dormir, voltei pra barraca e logo estava dormindo.
Quarta 29/08 - Rock and Roll and Tocla
Quarta 29/08 - Rock and Roll and Tocla

Aos poucos, entre um gole e outro de café, iamos vestindo nossas armaduras e nos equipando com nossas armas. Fazia um frio abaixo de zero, pois algumas coisas que ficaram fora da barraca já estavam congeladas. Mas estavamos contentes com o tempo, pois uma lua cheia e um céu aberto nos saldavam com muita esperança de um dia lindo.
Ver essa enorme montanha branca de gelo banhada pela luz da lua era uma cena irreal e inemaginável pra mim.

O Regi ia guiando a cordada, eu no meio e nosso convidade Mike no final da corda. Escalavamos de madrugada e com nossas lanternas desligadas. Seguiamos a rota sobre a luz da lua. Creio que todo montanhista sonhara um dia escalar assim e isso me animava muito. Ver as sombras dos seracs acima de nós e a luz da lua consumida pela imensidao escura das gretas era assustador.
Sentia que estavamos progredindo, mas lentamente. Comecei a perceber que meus dedos do pé estavam ficando gelados. Depois de muitas rampas e contornar algumas gretas e seracs, começamos a enfrentar trechos de escalada mais técnica e entao me concentrava mais nas subidas. Antes de um trecho que todos chamam de "ombro" há o primeiro desafio técnico, uma rampa de uns 60m de uns 60 a 70 graus de inclinaçao. O Regi entrou guiando e pedi ao Mike que desse segue, pois eu precisava verificar meus pés que estavam congelando. O frio nao era intenso, talvez com o vento a sensaçao térmica estivesse entre -5 e -10. O problema era que estava com duas meias grossas numa bota muito justa, isso quase me custou a escalada. Movimentei os pés até que a circulaçao voltou e entao já era minha vez de subir o paredao de gelo. Quando terminei esse trecho encontrei o Regi e o Mike ancorados no final de uma fina crista, que de um lado tinhamos o paredao escalado e de outro uma greta assustadora que engolia a luz da lanterna. Em algumas descriçoes chamam essa greta de "Traga Homens".
Atravessamos a crista cravandos as piquetas no topo e com metade do corpo acima da linha da crista. Essa travessia ainda de madrugada foi o primeiro "crux" da escalada. Depois de mais algumas rampas já estavamos no ombro e entao entramos na aresta que leva até o cume. Nesta aresta o vento aumentou muito, com fortes rajadas. O dia estava começando a clarear, porém nao bonito como esperavamos. Muitas nuvens estavam surgindo de trás da montanha. Quando achei que com o amanhecer a temperatura iria melhorar me enganei. Pois aos poucos o tempo foi ficando feio e logo começou a nevar. Por umas 8h da manha estavamos no meio de um vento muito forte, creio que uns 50km, muita neve caindo e uma visibilidade de uns 20m. Sabiamos pelo altimetro que estavamos no máximo uns 200 metros do cume. Continuamos progredindo, mas eu cada vez mais preocupado com meus pés, nessa altura já nao conseguia mais movimentar os dedos. Antes da travessia da crista, comentei com o Regi a possibilidade de voltar, ele disse que se um voltasse todos voltariam juntos. E entao toquei pra cima na esperança de encontrar o forte sol de todos os dias ao amanhecer.
Depois de mais uma escalada de uns 70 a 80 graus chegamos ao segundo e mais díficil crux da escalada. Uma gigantesca Rimaia separa o cogumelo de gelo do cume. Durante os meses mais frios essa rimaia é bem menor e uma ponte de gelo permite escarla-se os últimos 100 metros verticais, com trechos de 80 graus, que terminam no cume. Nao encontramos ponte alguma, o caminho mais viavel para alcançar o paredao final teria que passar por um vertiginoso túnel vertical dentro da Rimaia, um caminho grotesco e assustador, pois ao terminá-lo já estariamos no paredao. ainda bem que esse trecho era curto. Enquanto o Regi e o Mike que nao conseguiu passar o túnel com sua mochila, procuravam o melhor caminho eu estava sentando dentro da rimaia tentando fazer voltar a circulaçao nos pes e movimentar os dedos. Os dois nao encontraram um gelo bom para um proteçao com parafusos. O gelo deste trecho final estava muito quebradiço e com o aumento dos ventos, os dois voltaram até mim e aguardamos por melhores condiçoes. Eu desamarrei todos os cadarços da minha bota dupla e movimentando muito os pés consegui fazer o sangue voltar a circular nos dedos. Mas eu estava preocupados com meus feios dedinhos e disse ao Regi vamos vazar daqui e descer.

Assim terminou nossa escalada ao Tocllaraju, que poderia ter sido mais fácil. Mas acredito que ter feito o cume em condiçoes adversas teve um gostinho melhor. Agradeço a Deus por tudo ter dado certo e ao meu grande amigo Reginaldo, que com bravura nao se deu por vencido, nem pelo frio, nem pelo ventou ou pela neve. Seguiu seu coraçao e nos conduziu ao cume.
Como diz aquela música do Maskavo: "Saiba ouvir seu coraçao e deixe seus medos pra trás"
Ps: Estamos com problemas pra conseguir as fotos que tiramos do Tocla, pois o Regi perdeu as fotos de sua camera, eu consegui poucas fotos e vamos ter que esperar pra revelar as do Mike.
Para mais informaçoes sobre o Tocla acesse:
Vídeo de uma parte da descida próxima a travessia da crista.
5 comentários:
E aí galo rosa...
agora que eu consegui descobrir como faz para comentar os bizus...
cara... que legal essa escalada de vcs... o relato deixa a gente com vontade de estar junto na aventura de vcs... que Deus esteja abençoando e cuidando de vcs... um abração prá vc e para o Regi... dê os parabéns pelo destemor do camarada aí!!!
Hiller
6034m, AD, storm!!! belo feito...
Parabéns.
Edu.
Pura Vida!
Nossa rapaziada, muita garra e persistência! é o que há!
e é isso ae..mandem bronca!
abraço ai,
Vinicius
¡Hola Luciano! Tus photos son muy bonitos. Estoy en Lima. Mi vuelo a los EEUU es en 2 de Oct. a las 12:30. Cuando regresé a Seattle, les daré los photos.
Luciano, estou pensando em fazer o Tocllaraju nesta temporada e queria algumas dicas suas. Conheço um pouco da região de Huaraz e pelo que andei vendo no seu blog acho que poderíamos trocar bons conselhos - Julio Targueta - targueta@gmail.com
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